Ronaldinho Carioca “Vale Tudo” ?

Terminou a primeira parte da novela futebolística do verão. Ronaldinho ex-Gaúcho jogará pelo Flamengo após intermináveis semanas, notícias e supostos “furos” de reportagem. Três “gigantes” do futebol brasileiro: Flamengo, Grêmio e Palmeiras se enfrentaram em um ringue midiático pelo cinturão do “Ultimate Dentuço Fight” e a torcida rubro-negra comemora esta semana a vinda de um dos maiores craques mundiais do século XXI.

Porém, algumas questões devem ser debatidas pela sociedade brasileira ao olharmos pragmaticamente para esta mera transferência clubística e diversas interrogações surgem com a confirmação do jogador na equipe carioca.

Primeiramente, o irmão e procurador de Ronaldinho exerceu o papel de um verdadeiro mercador persa globalizado. Pelas informações dos jornais dos três estados, ele estava com o martelinho em uma mão e o celular na outra. Um milhão de salário para o moço de bigodes e bombacha, dou-lhe uma, duas, opa, um milhão e duzentos para o empresário ítalo-paulista, um milhão e muito mais, vendido para aquela elegante dama de tailleur preto e echarpe vermelha a rara peça, campeão do mundo em 2002, duas vezes eleito o melhor jogador do mundo pela FIFA 2004-2005, craque da década segundo a revista World Soccer, ídolo internacional e figura indiscutivelmente carismática pelos seus dribles e seu inconfundível sorriso.

Mas o que esperar no âmbito do futebol profissional atualmente a não ser um leilão de um ídolo com requintes de “reality show”. Muitos dos profissionais que criticam o empresário/brother Assis, são os primeiros a tentarem conquistar uma informação exclusiva, a super-valorizar o atleta e seus feitos. O cenário circense não pode ser atribuído apenas ao jogador e seu mecenas, o papel da mídia foi fundamental para a atmosfera de “vale o que vier, vale o que puder, só não vale dançar homem com homem e nem mulher com mulher, o resto vale” como diria o saudoso Tim Maia (música “Vale Tudo”).

Outro interessante ponto neste dramalhão da bola é a questão da gratidão e do local em face do global. “Ah eu sou gaúcho” deviam estar gritando milhares de torcedores dos pampas nos arredores do Estádio Olímpico enquanto saboreavam suas suculentas chuletas e costelas. O sentimento local parecia que venceria um dos males do mundo contemporâneo, a ditadura do capital, mas, infelizmente, para os gremistas e saudosistas de plantão, nem a lembrança da “casinha azul e branca de varanda um quintal e um gramadinho verde para driblar e para correr” e o apelo emocional para que estivesse próximo dos familiares, longe das tentações das cidades grandes do Rio e São Paulo, como se Porto Alegre fosse ainda a antiga província das felizes famílias açorianas do século XVIII, foi suficiente para trazer o filho prodígio de volta a sua origem. Ronaldinho provou aos gaúchos que não é apenas filho da República Rio-Gremista, trata-se de um cidadão do mundo, onde como diria um ditado norte-americano é o “dinheiro que faz o planeta girar”.

E o discurso paulistano/palmeirense embasado no profissionalismo, na relação fraterna com o técnico Felipão, o bom filho à Família Scolari retorna, na famosa palavra “bandeirante” ESTRUTURA também não foi suficiente para seduzir o “menino maluquinho” dos pés de ouro. O atual discurso alviverde de ausência de ética beira o cômico. Faltou a ética Parmalat, Unimed ou Traffic? Qual o padrão ético que pauta as contratações, transferências e apropriação de atletas desde as categorias de base? Faltou mesmo “Money my friends”.

Chegamos ao arrematador rubro-negro. Uma nação está em festa, para o torcedor a contratação de um craque como Ronaldinho é a esperança de soterrar a pífia campanha do ano passado e voltar à glória de 2009. Porém nesta história, como na clássica novela de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Basséres, exibida entre 1988/1989, vale tudo.

O salário do novo ídolo rubro-negro é astronômico, as dúvidas sobre sua condição física e seu desejo de realmente jogar futebol são pertinentes e principalmente o respeito aos ídolos no futebol flamenguista na atual gestão tem sido pelo menos questionável. A forma que o técnico Andrade foi demitido, o episódio com o ídolo maior Zico, espécie de Zeus rubro-negro, e o atual afastamento do craque da década Petkovic, podem cair no esquecimento coletivo caso Ronaldinho Carioca arrebente e ganhe títulos pelo clube, mas, se não der certo, o coro de mercenário para o aspirante ao panteão flamenguista e de incompetente para atual presidenta certamente ecoarão nos meios de comunicação e entre os fanáticos apaixonados pelo rubro-negro.

Novos capítulos desta interessante novela começarão no Carioca 2011. Em dois anos saberemos se a elegante dama que arrematou a rara peça de dentes de porcelana e pés banhados a ouro será vista pelos rubro-negros como a vilã Odete Roitman ou como a queridinha Raquel Acyoli interpretada por Regina Duarte. E o Flamengo, parafraseando a música de Cazuza como metáfora do Brasil vai ter a oportunidade de mostrar sua cara.

8 pensamentos sobre “Ronaldinho Carioca “Vale Tudo” ?

  1. Alvaro,

    meu palpite é que da novela Ronaldinho Gaúcho acabou apenas a primeira fase. Agora vem a segunda fase, que sempre é mais longa e cheia de “barrigas”. A primeira “barriga” é bem promissora – a de quando ele vai estrear, pois há especulação de que ele só entre em campo pela primeira vez com a camisa do Flamengo em fevereiro.

    Excelente a comparação com a novela “Vale tudo”. Bem, eu não sou sociólogo, mas sou noveleiro, por isto vou me atrever a escalar o elenco desta trama toda.

    Assis é a Odete Roitman, que manipulou tudo e deixou o desfecho nos moldes do que ele queria. O dirigente gremista Paulo Odone é a Raquel Accioly, que ficou exigindo honestidade. Só não sei qual dos filhos de Odete Roitman é mais perfeito pro Ronaldinho Gaúcho – o Afonso, que faz tudo o que “mamãe Assis” decide, ou Heleninha Roitman, que é chegada numa bebida.

    Brincadeiras à parte, acho que a chegada de Ronaldinho Gaúcho é uma excelente contratação, mesmo não estando no ápice da carreira. Vai ser bom pro Flamengo e também pro Rio de Janeiro, que terá mais destaque no futebol nacional.

    Abraços,

    Vinícius Faustini

  2. “Mais destaque no futebol nacional”? impossível, Vinícius…
    Campeão brasileiro 2009: Flamengo – RJ
    Campeão brasileiro 2010: FuminenC – RJ

    Com dois campeões consecutivos, O “futebol carioca” (uma quimera, em minha opinião, já que clubes são muito desunidos), deveria estar em evidência há muito tempo!
    Mas, meracadologicamente, é mais interessante pros veículos midiáticos ficarem dando espaço aos parmêras e timões da vida… (e não é porquê o ex R9 tá lá…).
    Odeio novela.
    Vou esperar a bola rolar pra falar (espero que bem) do Dentuço.

  3. Caro Álvaro:

    Concordo com quase tudo que você escreveu, para variar. Só acho que a expectativa em torno de Ronaldinho vai ser maior do que o seu desempenho. O dentuço saiu do time titular do Milan e, logo depois, o time chegava à liderança do Campeonato Italiano.

    Outra questão interessante: a Patrícia Amorim (sempre ela…) se emocionou ao anunciar o Ronaldinho. Parei para pensar: não era para o Ronaldinho se emocionar ao vestir a camisa rubro-negra? Inverteram-se os papéis?

    O que discordo de você? Pouca coisa: apenas que acho que o Pet já deu o que tinha que dar.

    Um abraço,

    André Alexandre

  4. Alvaro, parabéns pelo artigo. Ronaldinho fechou com o Fla, agora tem que levar o esporte a sério pois abandonou o esporte faz algum tempo. Esse abandono aconteceu na minha visão por 3 motivos : 1) a imprensa e sua mania de elevar profissionais do futebol a super-heróis (eles acabam acreditando), 2) os valores dos salarios e patrocinios individuais, na maioria eram jogadores muito pobres que rapidamente ficam ricos e perdem o estimulo para correr atrás pois em poucos anos já estão com a situação patrimonial garantida e levam “nas coxas” os últimos anos da carreira, exemplos não faltam – vide Adriano , 3) o próprio jogador, rodeado de pessoas de caráter duvidoso.

    Fico satisfeito com a contratação porém já somos adultos para saber que tem que jogar bola, ganhar títulos relevantes (libertadores e brasileiro) caso contrário a contratação só será interessante para o marketing do Flamengo.

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